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quarta-feira, 15 de março de 2017

A Era "The Flash" - J.B. Rodrigues

      Vivemos numa época em que tudo se conecta a uma velocidade espantosa. Nunca se fez tanto em tão pouco tempo nesta era de tecnologia cada vez mais crescente. Com o advento da internet o mundo tornou-se menor, no sentido que é possível agora, interagir com qualquer parte do planeta em tempo real. Parece que nada mais é novidade. Tudo se compartilha quase no momento em que os eventos ocorrem. As informações estão todas à ponta dos dedos, e quanto mais rápido e hábil uma pessoa é no teclado de seu computador, tablet, ou celular, mais rapidamente ela tem acesso às inúmeras informações disponíveis. Vivemos na era “the flash”.
      Essa sociedade contemporânea marcada pela tecnologia é consequentemente, também, marcada pelo imediatismo, consumismo, e globalização. Uma vez que tudo é muito rápido, espera-se resposta imediata para tudo. Diferentemente do que acontecia alguns anos atrás, quando se esperava semanas pela resposta a uma carta, hoje em apenas alguns segundos – ou quando muito minutos, se tem o retorno do que buscamos. É a tecnologia encurtando o tempo...
      O apelo ao consumismo nunca foi tão forte, também, nessa era tecnológica. A mídia serve-se de todos os recursos tecnológicos para persuadir o homem a consumir. Se os jornais, rádio e televisão foram um avanço, agora temos todas as páginas na internet, e-mail, e celulares inundados de “ofertas” ao consumo. Assim, os comerciais produzem o efeito de transformar o desejo em necessidade. Somos de tal forma bombardeados por suas mensagens subliminares que sentimos como se não pudéssemos viver sem consumir. A tecnologia que evolui tão rapidamente, com a mesma velocidade se defasa, e esse paradoxo conduz-nos à compulsão de novas atualizações, novos aplicativos, novos recursos a fim de acompanhar a velocidade das mudanças.
      Globalização é o termo que define todas as sociedades no mundo. O que acontece de um lado do oceano em tempo real chega ao outro lado. Não há mais fronteiras para a disseminação da informação. Tudo se compartilha; tudo se comenta; sobre tudo se opina. Vídeo conferências oferecem o conforto de reuniões sem o desconforto de longas e dispendiosas viagens. Redes sociais como Facebook e aplicativos como WhatsApp e Instagram tornam a interação entre as pessoas tão ampla que temos a impressão de que o mundo diminuiu. É o mundo conectado.
      Tudo isso criou uma nova identidade no homem da sociedade contemporânea. Mas, creio eu, que essa identidade é mutante, influenciada pelo choque entre diversas influencias culturais, religiosas e ideológicas que inundam nossa subjetividade. Somos levados de tendência em tendência a novas formas de sociabilidade. Quantas mudanças se deram desde a fase pós-industrial até a essa era digital! Quantas virão ainda? Quem viver, verá.

O Tripé da Dignidade Humana - J.B. Rodrigues

      “O tripé da dignidade humana”, foi a expressão que despertou minha mente ao ler os primeiros capítulos de “Psicologia Social Crítica Como Prática de Libertação” – escrito por Pedrinho Guareschi, e manteve-a cativa à leitura à medida em que o autor formava esse tripé com suas considerações. De forma clara e simples, sem linguagem rebuscada – e ao mesmo tempo sem comprometer o estilo literário, Guareschi consegue delinear os contornos e entornos da sociedade em que vivem os homens provocando profundas reflexões sobre como o sujeito se move nesse ambiente.
      Ao falar da consciência, o primeiro dos pilares do tripé da dignidade humana, Guareschi procura despertar a fundamental capacidade do homem pensante de questionar, inquirir, e ponderar sua existência no contexto social e seu papel como parte no processo de constituir sociedade. Quando pensamos, questionamos, arrazoamos, despertamos uma consciência libertadora que faz com que sejamos mais do que agentes passivos na sociedade. Faz com que sejamos elementos atuantes e contribuintes para o desenvolvimento comum.
      Como segundo pilar do tripé, e como fruto de uma consciência despertada pelo exercício do questionamento crítico, Guareschi cita a “liberdade”. Liberdade para o homem escolher de forma emancipada e consciente o que lhe convém na sociedade. O que ele espera como produto no meio social, e o que ele pretende como produtor no mesmo ambiente. Libertação dos pré-conceitos impostos numa sociedade normativa onde o poder permeia muitas vezes, de forma dominante. Libertação das influências de ideologias que cerceiam o pensar e restringem a evolução das ideias. Libertação da formatação cultural, uma vez que as produções culturais tendem a moldar o homem a padrões que causam mal-estar mais do que satisfação e realização pessoal.
      Mas um tripé não é tripé com dois pés apenas. O terceiro pilar no tripé da dignidade humana é resultado não apenas do despertar da consciência pelo questionamento; não apenas da liberdade que uma consciência despertada produz. O terceiro pilar do tripé é a evolução dos dois primeiros. É um senso crítico e ético que molda a subjetividade humana; que faz com que o homem seja não apenas uma figura no cenário social, mas como uma peça útil no encaixe de uma engrenagem, e que produz o bem-estar social numa comunidade. É o que Guareschi chama de “responsabilidade”. Não é suficiente questionar, contestar, e se libertar. É necessário que sejamos responsáveis a certos princípios morais se é que queremos uma sociedade ética e justa para todos. Sim, o conhecimento que uma consciência despertada nos dá nos impõe, ao mesmo tempo, responsabilidade. E se falhamos nisso a dignidade humana torna-se capenga, cambaleante. A responsabilidade nas ações é como o terceiro pilar que dá estabilidade numa sociedade humana.
      Muitos outros pontos importantes Guareschi aborda para descrever e formatar a sociedade em que vivemos. As diferentes “cosmovisões”, ou “visões de mundo” que habitam nossa consciência. A “educação”, “comunicação”, “cultura” que permeiam toda relação social. O conceito de “relação” – que forma toda sociedade, “ação e mudança”, “ética”, entre outros. Todos estes temas tendem a promover no leitor o que parece ser o objetivo do autor, que é a reflexão crítica sobre a questão social. Isto está bem de acordo com o que eu considero ser o ponto chave do livro, ou seja, a formação do “tripé da dignidade humana”, consciência - liberdade – responsabilidade. É o que torna o ser humano, humano.

A Dimensão Subjetiva da Realidade - J.B. Rodrigues


   
      A dimensão subjetiva da realidade são construções individuais e coletivas que se interligam em um processo de constituição mútua. Logo, a subjetividade não é somente individual. Determinado grupo ou cultura desenvolve um sistema subjetivo, uma forma de entender e desenvolver o mundo, e a Psicologia Social tem como objeto de estudo a dimensão subjetiva desses fenômenos sociais. Não é possível a dissociação entre o indivíduo e a sociedade, ou seja, não há uma sociedade à parte e independente dos indivíduos, e não há indivíduos autônomos em uma sociedade. É a interdependência entre um e outro que forma a Psicologia Social. O sujeito é ativo e tem capacidade de registrar cognitiva e afetivamente todas as suas experiências; e suas ações e experiências individuais subjetivas só são possíveis a partir das relações sociais, e do espaço, e do ambiente em que atuam.
            Os homens constroem ideias que explicam e justificam as relações sociais que promovem e essas significações geram a consciência individual. Logo, a Psicologia Social deve compreender o indivíduo a partir da inserção do mesmo na sociedade, uma vez que, os seres humanos e o mundo se transformam em um mesmo processo, caracterizado pela ação coletiva dos humanos sobre o mundo. Entende-se, portanto, a subjetividade como individual, mas constituída socialmente, a partir de um processo objetivo, com conteúdo histórico, social, coletivo, e que produz coletivamente. Como diz Lane (1984, p. 19), "O homem é sujeito da História e transformador de sua própria vida e da sua sociedade".

Geração Delivery - J.B. Rodrigues

Uma reflexão sobre a tendência destes dias, nos quais, os jovens procuram soluções prontas e rápidas associados ao comodismo paterno.



“Pra não dizer que não falei das drogas”, escrito por Waldo Hoffman no livro GERAÇÃO DELIVERY - ADOLESCER NO MUNDO ATUAL, reflete um drama comum em muitas famílias, quando o narcisismo parental, “abandonado tempos atrás”, como diz Freud, é projetado ou reproduzido nos filhos. Na tentativa de superproteger os filhos, e realizar neles os anseios narcisistas do passado, adolescentes são privados do saudável exercício da luta pela vida. Desconhecem as provações do esforço para conquistar sua autonomia tornando-se “geração delivery”, como sugere o autor, para descrever uma geração que recebe tudo de “mão beijada”.
Adolescentes que não são devidamente preparados para a dureza da vida, hão de encontrar nas drogas o caminho mais fácil. É um caminho mais fácil fazer uso de Ritalina – tão comum ultimamente, para enfrentar uma prova de vestibular. É um caminho mais fácil fumar um baseado para enfrentar as frustrações da vida. É um caminho mais fácil apelar para drogas mais pesadas a fim de evitar o campo de batalha. Isto é, também, o reflexo da acomodação paterna diante do trabalho de educar. Permissividade é uma maneira cômoda de evitar o estresse em educar. Dizer não, muitas vezes custa um preço que não estamos dispostos a pagar. Mas a conta vem, enfim, cobrando altos juros na vida da família. Vale a pena pagar pra ver?